A experiência do Brasil em desenvolver soluções para geração de energias renováveis faz com que o país e os pequenos negócios larguem na frente em relação ao restante do mundo. É o que aponta o presidente do Sebrae, Décio Lima, sobre a discussão no Fórum Econômico Mundial (FEM), realizado em Davos, na Suíça. Ele defende a inserção dessas empresas em uma cadeia global de valor e a conscientização como ferramentas fundamentais para o combate às mudanças climáticas.
Ao investir em energias renováveis, eficiência energética e práticas comerciais sustentáveis, as pequenas empresas podem se tornar catalisadores essenciais para uma economia mais verde e de baixo carbono.
Décio Lima, presidente do Sebrae Nacional.
Em entrevista à Agência Sebrae de Notícias, o presidente do Sebrae também aborda temas como a importância da Inteligência Artificial, que já é uma realidade entre os pequenos negócios, e o desafio da inclusão social como meta para um país mais equilibrado.
ASN – Como os pequenos negócios podem contribuir com os temas crise climática e transição energética, que entraram em pauta em Davos?
Décio – Pequenas empresas oferecem inovações e soluções ágeis que muitas vezes escapam às grandes corporações. O surgimento de startups focadas em tecnologias limpas e sustentáveis exemplifica essa dinâmica. No Brasil, muitas já estão desenvolvendo soluções para geração de energias renováveis, envolvendo placas solares mais eficientes e de variados portes e para a captura e armazenamento de carbono em cadeias globais, como a de petróleo e gás. Ao investir em energias renováveis, eficiência energética e práticas comerciais sustentáveis, as pequenas empresas podem se tornar catalisadora s essenciais para uma economia mais verde e de baixo carbono.
A inserção de pequenos negócios em cadeias globais é outra estratégia que pode impulsionar as contribuições das pequenas empresas para a agenda climática. Ao integrar essas empresas em redes globais, é possível facilitar a disseminação de tecnologias inovadoras, compartilhar boas práticas e criar sinergias que promovam a sustentabilidade em escala global. Além disso, ao adotarem práticas ambientais responsáveis, as pequenas empresas podem se destacar como parceiras valiosas em cadeias de suprimentos mais éticas e sustentáveis. No mundo, o setor de energia responde por cerca de 76% das emissões de gases efeito estufa.
A conscientização e a educação também desempenham um papel importante nesse cenário. As pequenas empresas podem contribuir promovendo a conscientização ambiental entre seus funcionários, clientes e parceiros de negócios. Isso pode levar a mudanças de comportamento e a uma demanda crescente por produtos e serviços sustentáveis, incentivando, assim, a adoção de práticas mais ecológicas em todo o ecossistema empresarial. Em última análise, as pequenas empresas não apenas respondem às demandas do mercado por sustentabilidade, mas também se tornam agentes de mudança, influenciando positivamente as práticas comerciais em escala global.
ASN – A inteligência artificial também será uma realidade para os pequenos negócios?
Décio – A inteligência artificial já é uma realidade entre os pequenos negócios, e isso será ampliado cada vez mais, com o aumento da oferta de ferramentas e da facilidade de uso, bem como da percepção pelos empreendedores que conseguem ajuda para reduzir erros, economizar tempo e dinheiro.
Uma das principais utilizações pelos pequenos negócios é no apoio aos desafios de marketing. A inteligência artificial facilita tarefas como elaborar textos de e-mail ou mensagem de WhatsApp; criar posts para redes sociais; editar vídeos; elaborar e-books; e até mesmo personalizar a jornada de compras, entregando experiências únicas para cada cliente, a partir dos dados coletados nos pontos de contato.
A IA também pode apoiar pequenos negócios “da porta para fora”, na adoção de estratégias automatizadas para prospectar clientes e oferecer jornadas individualizadas para atrair consumidores de bens e serviços. Em outra frente, o aumento da produtividade também já vem sendo observado a partir do uso de ferramentas de IA na automatização de fluxos de trabalho; na elaboração de apresentações; no gerenciamento inteligente do estoque; no atendimento ao cliente 24 horas por dia, 7 dias por semana; e até mesmo na tradução de conversas com fornecedores e compradores internacionais.
ASN – Um estudo apresentando em Davos afirma que o crescimento futuro deve incluir inovação, inclusão, sustentabilidade e resiliência. Como permitir a tão sonhada inclusão social para diminuir o desequilíbrio?
Décio – As empresas perceberam que a integração da sustentabilidade, inovação e da inclusão social contribui para um mundo socialmente justo, além de resultar em benefícios financeiros a longo prazo, como acesso a capital mais barato, maior atração para investidores responsáveis e ampliação de mercado. São três conceitos essenciais para a existência humana, mas que trazem enormes desafios.
Para implementarmos esse novo paradigma de desenvolvimento precisamos garantir a ampliação das políticas já estabelecidas na Constituição e que reservam aos pequenos negócios condições diferenciadas de existência.
É fundamental também olhar para o futuro, modernizar o marco legal dos pequenos negócios e nossas ações de governo, iniciativa privada e sociedade organizada de modo a conferirmos a essas empresas as possibilidades de pleno desenvolvimento em um novo modelo de economia. Os pequenos negócios podem liderar uma revolução que alia inovação, sustentabilidade e inclusão social e se consolidarem como o modelo brasileiro.
ASN – O Fórum elenca que as habilidades para o futuro são: se adaptar às mudanças, propor soluções inovadoras e gerenciar conflitos de forma criativa. O fato de os pequenos negócios terem uma estrutura mais enxuta contribui para o alcance dessas habilidades?
Décio – Algumas características das micro e pequenas empresas, como a estrutura mais enxuta, podem favorecer o desenvolvimento das habilidades necessárias para o futuro, mas também há desafios a serem enfrentados. Em relação à capacidade de se adaptarem à mudança, a estrutura mais enxuta das micro e pequenas empresas possibilita uma maior agilidade na tomada de decisões e na implementação de novos processos. A resposta rápida às transformações do mercado e do ambiente empresarial depende, entretanto, da cultura organizacional que incentiva esses movimentos, superando possíveis resistências à mudança. Nesse contexto, é de extrema importância constantemente potencializar o comportamento empreendedor, fortalecendo a base para favorecer essa habilidade.
Quanto à capacidade de gerenciar conflitos de forma criativa, a estrutura mais compacta das pequenas empresas facilita uma comunicação mais direta e aberta entre os membros da equipe, fornecedores, clientes e outros parceiros. Isso pode promover a resolução ágil e criativa de conflitos, incentivando um ambiente colaborativo e construtivo. É possível promover mudanças de atitudes para incorporar uma cultura positiva, e isso pode ocorrer de maneira mais rápida em estruturas enxutas.
Entre os desafios relacionados a essas três habilidades, destaca-se a limitação de recursos. Os pequenos negócios carecem de crédito a longo prazo, com taxas acessíveis, dificultando o investimento em ativos, como laboratórios e equipamentos e intangíveis, como recursos humanos e conhecimento. Todas essas questões já estão na nossa pauta. Estamos formatando com o Ministério do Empreendedorismo uma Política de Estado voltada para o crédito robusta, que prevê R$ 30 bilhões em aval para os empreendedores poderem planejar, comprar equipamentos ou mesmo quitar dívidas. Os pequenos negócios são protagonistas na distribuição de renda.
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